terça-feira, 26 de agosto de 2014

Ao perder-te a ti (Ernesto Cardenal)

Ao perder-te eu a ti
Tu e eu perdemos
Eu, porque tu eras o que eu mais amava
tu porque eu era quem te amava mais

Mas de nós dois
tu perdes mais que eu
porque eu poderei amar a outras como te amava a ti
Mas a ti não te amarão
Como te amava eu...
Não te amarão

De que me servem a mim, a primavera
Esta cidade com praças e alamedas
se no acontecer do dia que se vai
em toda essa cidade, não há quem me espere...

De que me servem a mim tantas paisagens
o céu cruel e azul, a lua cheia
se no anoitecer da escura imensidão
ninguém me espera

Em toda esta cidade
Não há quem me queira...

Os olhos sem amor são olhos mortos
Olham, mas não veem a pele do dia
a festa de cor do pássara, e a flor
o rosto natural da alegria

De que pode servir olharmo-nos sem amar
Os olhos sem amor não veem a vida
o solitário caminho solitário rumo à morte
É como um forasteiro dos dias
Dirá que este aqui e não soube entender porque
Os que te amavam, sorriam...

Um homem, uma mulher, por separado
São a metade do ser. Duas solidões
De que podem servir, se não sabem unir
No rio de uma criança, os dois sangues...

Ao perder-te eu a ti
Tu e eu perdemos...

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